Coisas que oiço, coisas que vejo mas não acredito...
Ideias e comentários para
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Diz que vais da minha parte.
Estive afastado da escrita por mais de um mês porque decidi pedir um favor e confiar num amigo.
Nunca se deve pedir um favor e jamais se deverá confiar num amigo de um amigo.
Estava em casa quando reparei que faltava um pouco de chicória para dar cor a uma salada que estava a fazer. Mas a onde posso encontrar chicória a esta hora da tarde e logo num domingo? – interrogava-me.
Nessa altura lembrei-me de um amigo que me disse: “Ó meu grande amigo, já sabes, se algum dia precisares de um ramo de chicória fala com o Carlos Alberto. Mesmo que seja a um domingo à tarde. E quando falares com ele diz-lhe que vais da minha parte”.
Com estas sábias palavras ainda a ecoar na minha cabeça decidi telefonar para o Carlos Alberto.
- Carlos Aberto, tudo bem? Olha fala o amigo do Manecas. É pá estou aqui com um problema, nem sei como lhe dizer isso pá.
- Olá. Tudo bem, diga lá coisas então.
- Precisava de um favor seu, mas nem sei por onde começar, nem estou habituado a estas coisas.
- Não há problema. Em que posso desenrascá-lo?
- É pá, sabe precisava de um ramito de chicória para uma salada que estou a fazer. (Aqui entra o erro) O Manecas disse-me que era capaz de me ajudar neste problema.
- Chicória eu fosse. Passe cá em casa que eu trato disso. Tenho aqui uma pequena horta na varanda das traseiras. Cá o espero.
Saí de casa nervoso, porém contente, iria resolver um problema que me afectava há muito. Se não fosse o Carlos Alberto onde iria encontrar chicória aquela hora. Pensava eu enquanto caminhava.
Subo de um fôlego os sete andares que separam a entrada do apartamento do Carlos Alberto. Quando entro o anfitrião recebe-me com um enorme sorriso.
- Entre e vá andando ali para a sala. Disse-me.
Ao entrar na sala sou logo violentamente espancado por 4 capangas de noventa centímetros, mais tarde descobri que eram a trupe de anões do Circo Rajá, que me infligiram violentas pancadas nos joelhos e nas coxas provocando-me o riso e a queda. Depois disso fiquei inconsciente e só acordei 3 semanas depois no hospital.
Afinal o Manecas devia dinheiro ao Carlos Alberto de umas apostas de corridas de focas, que se realizavam clandestinamente nas traseiras do Circo Rajá em Sacavém, e eu, sem ter culpa nenhuma, vi-me envolvido neste enorme problema. Um mês depois do sucedido e já sem gesso consegui finalmente encontrar forças para relatar este acontecimento.
Um Mimo
Boa noite. Nestes períodos eleitorais especialmente conturbados temos o privilégio de ter em estúdio o líder do partido dos mimos.
Dr. Mimo Giroflé, como reage às críticas do Governo, que o acusa de vender o seu partido ao lóbi dos cosméticos?
Dr Mimo Giroflé encolhe os ombros e deixa ver uma lágrima arroxeada que está imaculadamente pintada sob o seu olho direito.
Estas notícias têm tido reflexos no seio do PPM (Partido dos Palhaços e dos Mimos)?
Dr. Mimo Giroflé levanta-se e dirige-se às câmaras e afasta os braços, ficando o seu corpo em forma de T. Com a palma das mãos desenha um quadrado, deixando a entender que se sente encerrado e sufocado numa caixa fechada.
Dr. Giroflé, é verdade que a mimo Picolé, que anima miúdos e graúdos todos os dias na Praça da Alegria, é um caso de “job for the mimos”, tal como é avançado hoje pela imprensa cor-de-rosa?
Dr. Mimo Giroflé tira do bolso das calças brancas um pequeno balão faz e apressadamente uma espada de pirata, que nervosamente oferece ao entrevistador.
O dr. Giroflé desculpe mas está a fugir à pergunta. Voltando à campanha eleitoral, diz-se que o seu partido não consegue fazer passar a mensagem, é verdade?
O dr. Mimo salta de um carro em andamento imaginável e começa a empurrar uma parede. Mas a parede é mais forte e o mimo é forçado a dar dois passos atrás. Claramente foi derrotado pela parede.
Ele aproveita para sacudir o suor do rosto, encolhe os ombros e apoia as mãos nas pernas ligeiramente flectidas para a frente.
Estamos a dias do encerramento da campanha eleitoral, que mensagem quer deixar aos nossos espectadores?
Dr. Giroflé levanta-se, anda em círculos durante longos segundos com dois dedos da mão esquerda sobre a testa.
De súbito pára, abre um largo sorriso, deixando ver uma ligeira marca de baton nos dentes, levanta o braço esquerdo (claramente uma medida de carácter social) e ergue o dedo indicador. Mete a mão direita no bolso e começa a tirar uma série de coisas, balões por encher, confetis, serpentinas de cor amarela e finalmente, o trunfo da campanha, um ramo de flores de plástico. Sorri e agradece para as câmaras.
Muito obrigado dr. Não temos mais tempo para continuar o nosso gostoso diálogo, dr. não adianta estar a chorar, o dr. sabe como são curtos os tempos de emissão. Muito obrigado pela disponibilidade e também por este caniche verde que me acabou de oferecer. Senhores espectadores até à próxima boa noite.