Está tudo perdido

Coisas que oiço, coisas que vejo mas não acredito... Ideias e comentários para estatudoperdido@gmail.com

segunda-feira, janeiro 23, 2006

 
O trânsito.

Apesar de quatro veterinários da Companhia das Lezírias terem tomado a decisão de rumarem para sul do Tejo e enveredar pela luta armada, depois do resultado alcançado pelo Aníbal, o filho do Teodoro, a minha preocupação centra-se nos jornalistas que anunciam o trânsito.
Não é por acaso que eles nunca chegam atrasados. Eles pertencem aquele núcleo de pessoas que ganham bem sem ter de fazer nada.
Quem ouve rádio e fica preso no trânsito já sabe quais são os ponto negros de acesso ás principais cidades portuguesas… A IC-19, a rotunda Bessa Leite, o nó de Alcântara, a baixa de Corroios, o sentido Aeroporto – Pina Manique, etc....
São sempre os mesmos sítios há anos. Estes radialistas limitam-se a ler um texto que foi escrito há séculos, uma das primeiras impressões de Gutenberg segundo alguns historiadores menores. Os locutores apenas fazem pequenas alterações na ordem dos locais. Segundo os referidos historiadores, estes "profissionais" inventam o trânsito, repetindo as mesmas frases com medo de perderem o emprego.
Ao longo da história do trânsito nacional foram apenas autorizadas duas alterações que passam despercebidas ao incauto automobilista.
Uma delas é a famosa rotunda do Baptista Russo onde, para os locutores, ainda existem "resistência ou paragens". Mas haverá mesmo? Agora, dizem os membros desta corporação, há trânsito na antiga rotunda do Baptista Russo (repare-se na subliminar alteração).
Esta mudança foi discutida no IV Congresso Extraordinário de Radialistas de Trânsito, reunido de emergência junto à saída do Palácio de Queluz, na IC-19.
A alteração mais significativa derivou de uma má leitura de uma passagem do "Livro do Trânsito" quando um radialista (recentemente encontrado morto na Via de Cintura Interna) provocou o Grande Cisma Rodoviário com a expressão "grandes complicações no Alto da Pimenteira no acesso à ponte sobre o Tejo " porque o que estava efectivamente escrito era "Auto da Pimenteira". Pensa-se que o fundador do teatro lusitano esteve também envolvido na redacção da cartilha do bom viajante.

Comentários:
Ao ler esta bem conseguida exacerbação de uma pequena parte da nossa realidade diária, penso em várias coisas. Penso que as notícias de trânsito funcionam um pouco como um ‘hit’ musical, do qual já sabemos a letra e o qual esperamos ansiosamente que toque na rádio para que possamos cantar bem alto enquanto andamos, qual caracol, em quase todas as estradas de Portugal. Como sabe bem esticarmos as cordas vocais ao som de um ‘congestionamento’ ou de um ‘pára arranca’ na ‘Ponte do Freixo’, enquanto abrandamos para ver quantos braços partiu o senhor do carro azul que terá certamente uma marca e que está irreconhecível à nossa esquerda. Por isso penso que essa gente do trânsito contribui para a nossa estabilidade diária. Claro que é gente que não interessa a ninguém. Monótonos, previsíveis, pouco criativos… Mas úteis. Que bom seria se fossem portáteis e a pilhas… Lá estariam eles a abanar no tablier com um sorriso rasgado a dizer: ’Não vás por aí. Atropelaram um cão numa passadeira e está lá a malta da União Zoófila todos nus com cartazes…’ Isto sim seria vida!
 
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